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10 filmes de terror brasileiros para conhecer

Você conhece filmes de terror brasileiros? Muitas vezes quando se pensa em cinema nacional, os mais lembrados são os filmes de drama da retomada, as comédias marcantes do Brasil ou até os grandes filmes do Cinema Novo. “Central do Brasil”, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, “Cidade de Deus”, “Auto da Compadecida” e “O Bandido da Luz Vermelhas” são alguns dos filmes que estão na boca de quem gosta do cinema no Brasil.

No entanto, muitas vezes há um apagamento de uma produção cinematográfica relevante na história da 7ª arte brasileira: o cinema de horror. Nomes como José Mojica Marins, Juliana Rojas, Rodrigo Aragão, Gabriela Amaral e Walter Hugo Khouri têm produções expressivas, que são tão boas quanto qualquer filme de terror produzido lá fora. 

Para celebrar essas produções exuberantes, apresentamos uma lista de 10 filmes de terror de diferentes diretores para quem quer conhecer o gênero no Brasil.

1. Trabalhar Cansa (2011), de Juliana Rojas e Marco Dutra

Primeiro longa da parceria entre Juliana Rojas e Marco Dutra, Trabalhar Cansa conta a história de uma família que está passando por problemas financeiros. Helena na tentativa de empreender, abre seu próprio mercado, enquanto seu marido Otávio, após perder seu emprego, sofre dificuldade para se colocar no mercado de trabalho. 

Em uma narrativa composta por alguns saltos temporais, vemos Helena com dificuldades em gerir o seu novo empreendimento, sobretudo após eventos estranhos que a fazem questionar sua sanidade e sua confiança nos funcionários.

Em um filme que parece prever algumas tensões e fenômenos que estavam por vir na sociedade, como a crise econômica, o desemprego e até a ascensão dos coaches. Rojas e Dutra mostram-se visionários em um terror que aborda as complexidades das relações de poder dentro da classe média.

Onde ver: Gratuito no YouTube

2. Morto Não Fala (2018), de Dennison Ramalho

Baseado no conto homônimo do jornalista e cronista Marcos de Castro, que já havia colaborado com Dennison no seu curta-metragem Ninjas (2010). O filme conta a história de Stênio (Beltrano de Tal), um plantonista noturno do Instituto Médico Legal (IML), da cidade de São Paulo, que tem o dom (ou a maldição) de falar com os mortos.

Na maior metrópole da América Latina, marcada pela ostensiva violência entre policiais e facções, Stênio acaba usando algumas das informações dadas pelos mortos para benefício próprio, que o colocam em risco e também sua família.

Em entrevista à Película, o diretor de Morto Não Fala contou um pouco sobre a produção do filme, feito em parceria com a Globo Filmes. Segundo Dennison é um longa “muito tributário” ao cinema feito pelo George Romero.

Onde ver: Gratuito no YouTube e disponível por assinatura na Claro TV +

3. Filhas do Fogo (1978), de Walter Hugo Khouri

A sensação de assistir o Filhas do Fogo, é de que há sempre algo à espreita das personagens, e propositalmente o diretor coloca nos objetos cênicos buracos que se assemelham a olhos. “Eu me senti fora do mundo e havia algo me rondando, cercando e observando tudo que eu fazia”, diz uma das personagens no início desse terror atmosférico.

Aqui, Walter Hugo Khouri brinca com o onírico, embaçando os limites entre realidade, sonho e universos paralelos. A história acompanha Ana (Rosina Malbouisson), uma jovem paulistana, que viaja até Gramado (RS) para visitar sua namorada Diana (Paola Morra), que faz parte da elite local. Ao longo de um passeio pelos campos da propriedade gaúcha, as duas encontram uma mulher que realiza experimentos para escutar vozes de espíritos. 

Com isso, Khouri se utiliza de aspectos fantasmagóricos e eróticos da narrativa para explorar recursos mais sugestivos, criando armadilhas visuais e sonoras para as personagens e também para quem assiste. 

Onde ver: Gratuito no YouTube  

4. Vinil Verde (2004), de Kleber Mendonça Filho

Seria nosso destino nos tornarmos nossos próprios pais? Será que desobedecer é um primeiro passo para sermos seres genuínos? A partir de uma perspectiva bem freudiana, Vinil Verde conta uma fábula de terror para crianças que trabalha muito os medos e os desejos do inconsciente.

O curta, de aproximadamente 17 minutos, é feito a partir de fotos sequenciais e acompanha a relação de Mãe (Veronica Alves) e Filha (Gabriela Souza) que vivem sozinhas. Em determinado dia, a mãe dá de presente a sua filha uma caixa com um toca discos e vários discos com músicas infantis. Ela então fala para filha que ela poderia ouvir todos os vinis, “mas nunca o disco verde”. Imediatamente após a saída da mãe para o trabalho, a filha, em um ato de desobediência e de curiosidade pelo proibido, coloca o vinil verde para tocar. Ao anoitecer, quando a mãe volta para casa, a filha percebe que algo terrível aconteceu à sua mãe.

O curta deu grande visibilidade para Kleber Mendonça Filho (Bacurau, Aquarius), antes mesmo dele ter se tornado esse nome de destaque no cinema brasileiro, tendo sido premiado em Melhor Direção, Melhor Montagem e levado o Prêmio da Crítica no Festival de Brasília em 2004.

Onde ver: Gratuito no YouTube

5. Excitação (1977), de Jean Garrett

Antes mesmo de filmes como Poltergeist (1982) de Tobe Hopper ou Ring – O Chamado (1998), de Hideo Nakata, Excitação já trabalhava a fobia das tecnologias em meio a ascensão dos computadores em um filme de terror erótico com pitadas do giallo – subgênero italiano que mistura terror e suspense, com assassinatos misteriosos e visual bem marcado.

Helena (Kate Hansen) e Renato (Flávio Galvão) são um casal que se muda da cidade grande para uma casa na praia para ajudar a esposa a se recuperar das crises nervosas e das alucinações que sofre. Mas o que não se sabe é que o marido da vizinha havia se suicidado naquela mesma casa.

Sempre que o marido sai de casa para o trabalho, os eletrônicos da casa começam a funcionar sozinhos, as luzes começam a piscar e coisas mais estranhas acontecem, fazendo Helena duvidar se está alucinando ou se está sendo assombrada. 

Onde ver: Gratuito no YouTube

6. O Despertar da Besta (1970), de José Mojica Marins

Não dá pra ter uma lista de filmes brasileiros de terror sem Mojica. O diretor é o maior nome do gênero no país e foi o primeiro a se assumir como cineasta do terror. O Despertar da Besta é um de seus filmes mais políticos e subversivos. 

O filme se passa todo durante uma mesa de debate com psiquiatras em um programa de televisão no qual eles discutem a influência do “tóxico” em atos de violência e de perversão sexual. Na mesa um dos psiquiatras discorda do restante dos companheiros, defendendo que a droga não é a causa desses atos, mas sim a própria maldade e os desejos ocultos das pessoas. Com isso, numa decisão bem metalinguística da narrativa, o psiquiatra convida o próprio José Mojica Marins para a mesa de debate, já que decidiu fazer um experimento no qual iria submeter quatro voluntários a um experimento com LSD no qual as pessoas deveriam olhar fixamente para um pôster do filme Estranho Mundo do Zé do Caixão sob o efeito da droga. 

Em um filme experimental que aborda o período de efervescência cultural que se deva entre os anos 1960 e 1970 em várias parte do mundo, Mojica quase que ameaça uma narrativa moralista em seu início. Entretanto subverte seu discurso em uma obra de contestação aos esteriótipos da visão da sociedade sobre os usuários de drogas. Um dos motivos pelo qual o filme foi censurado e impedido de ser exibido pela ditadura militar.

Onde ver: Gratuito no Spcine Play e no YouTube

7. Medusa (2021), de Anita Rocha da Silveira

O cinema de horror de Anita Rocha é bem interessante de ser analisado, pois nele temos elementos que se repetem: os closes nos rostos dos personagens, a ausência ou desaparecimento de alguma figura feminina, a presença da igreja como instituição opressiva e um terror focado na vivência da mulher brasileira.

Em Medusa, Anita amadurece algumas das temáticas que já havia trabalhado em seu primeiro longa Mate-me Por Favor (2015) e em alguns dos seus curtas. É um filme que tem  aspectos ainda mais oníricos que os seus anteriores, conforme a evolução da narrativa.

No filme de 2021 acompanhamos Mari (Mari Oliveira), uma jovem religiosa, que de dia tem uma vida “normal”, indo para igreja e cantando junto com suas amigas músicas sobre a pureza, a perfeição e Deus. A noite ela e as mesmas jovens colocam máscaras e espancam mulheres que consideram pecadoras.

No entanto, as percepções de Mari começam a mudar quando, durante uma saída noturna, uma das mulheres perseguidas, na tentativa de se proteger corta seu rosto, deixando-a com uma cicatriz. Com a pressão estética do seu círculo social, a personagem vê seu mundo ruir, mas junto com isso suas crenças na igreja, na comunidade e na forma como ela se enxerga. 

Onde ver: Disponível por assinatura no Telecine

8. Estátua! (2014), de Gabriela Amaral Almeida

Antes mesmo de fazer seus longas Animal Cordial (2017) e A Sombra do Pai (2018), Gabriela Amaral Almeida fez curtas incríveis que já mostravam sua habilidade com o gênero do terror, um deles foi Estátua!.

Nos 24 minutos do curta, acompanhamos Isabel (Maeve Jinkings), uma babá que está grávida e que não vê a hora de ser mãe. Isso pelo menos até ela começar a cuidar de Joana (Cecilia Toledo, uma menina que tem alguns comportamentos estranhos e parece enxergar em Isabel a carência de atenção que não tem da própria mãe.

A direção de Gabriela junta às atuações de Maeve e Cecilia fazem a gente ficar aterrorizado com a imprevisibilidade da criança, assim como Isabel. Com isso, o filme personifica o medo da maternidade, com a menina sendo o próprio objeto de medo.

Onde ver: Disponível por assinatura na Claro TV+

Curta de terror brasileiro é estrelado por Maeve Jenkings – Foto: Reprodução/Porta Curtas

9. O Segredo da Família Urso (2014), de Cíntia Bittar

Os porões da ditadura podem estar bem debaixo do seu nariz. O Segredo da Família Urso inicia contextualizando o espaço temporal, com a seguinte informação na tela: “1970, Ditadura Militar Brasileira”. A partir disso passamos a ver toda estranheza do filme com outros olhos. 

Pelos olhos de uma criança, Georgia (Liz Comerlatto), acompanhamos uma “típica família tradicional brasileira”. Os pais quase sempre estão fora, deixando a filha para ser cuidada por uma babá, mas quando estão em casa são distantes, frios e parecem não ligar muito para a filha. 

Com o desejo de brincar no porão, Georgia acaba percebendo que a porta do local está trancada, por um motivo que os pais não querem explicar.

Dirigido pela catarinense Cíntia Bittar, o filme vai escalando a tensão através da curiosidade infantil, adentra nas crueldades da ditadura e na sua normalização no cotidiano.

Onde ver: Disponível gratuitamente no YouTube

10. A Mata Negra (2018), Rodrigo Aragão

Em meio a tantas produções que tentam disfarçar que não são terror ou que ganham a alcunha de “terror elevado”, os filmes de Rodrigo Aragão vão na direção oposta a essa tendência, assumindo o terror descaradamente.

Sem medo do gore – violência gráfica e sangrenta –, e de uma narrativa mais frontal, Mata Negra, acompanha Clara (Carol Aragão), uma garota que vive com seu pai na floresta e vê sua vida mudar drasticamente ao encontrar um livro de Magia Negra, colocando toda população local contra ela.

Com efeitos bem artesanais, o filme se diverte com o absurdo que os efeitos visuais podem chegar. Em uma das cenas mais absurdas do filme, por exemplo, em que o filhote de galinha possuído ataca as pessoas da casa. Um filme de alguém que é apaixonado por terror e que tem um cinema que vale a pena ser conhecido. 

Onde ver: Disponível em mídia física na Amazon

Texto por Yuri Micheletti

 

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