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Terror brasileiro, uma história fragmentada

Com seus óculos de lentes amarelas, animado após exibir seu novo filme de terror Prédio Vazio na 28ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o cineasta Rodrigo Aragão declarou à Carta Capital que “boa parte dos brasileiros ainda não sabem que existe filme de terror no país”. A fala do diretor de Mangue Negro (2008) não é uma novidade dentro do universo do cinema. Com exceção, talvez, do icônico Zé do Caixão – personagem criado por José Mojica Marins em A Meia Noite Levarei sua Alma (1964) –, parece não haver uma popularização do nosso horror para além da bolha de cinéfilos.

Pode parecer contraditório, ou no mínimo curioso, o fato do terror no Brasil não ser tão popular quanto outros gêneros como comédia ou ação. Tendo em vista que o terror é um gênero que historicamente faz sucessos de público. O famoso “terror de shopping” é responsável, por exemplo, por levar grandes montantes de público ao cinema. E por serem filmes, que possuem geralmente um baixo orçamento, costuma haver um bom retorno financeiro para os realizadores. 

No Brasil, entre janeiro de 2022 até final de março de 2025, entre os 100 filmes com mais espectadores nas salas de cinema nacionais, 16 deles foram de terror, de acordo com dados coletados pela Agência Nacional de Cinema (Ancine). Mostrando, assim, a potência do gênero, e o quanto o brasileiro consome o terror. No entanto, nenhum desses filmes estão entre as 100 maiores bilheterias eram brasileiros.


Gêneros com as 100 maiores bilheterias no Brasil

A pesquisa se baseou nos gêneros de destaque que apareciam nos sites Letterboxd e IMDb, tendo em vista que a Ancine dividia os filmes apenas em ficção, documentário e animação.

Gêneros com as 100 maiores bilheterias no Brasil A pesquisa se baseou nos destaque que apareciam nos sites Letterboxd e IMDb, tendo em vista que a Ancine dividia os filmes apenas em ficção, documentário e animação.
Gráfico: Revista Película

O jornalista, crítico de cinema e organizador do livro Cinema fantástico brasileiro: 100 filmes essenciais, Gabriel Carneiro, indica que isso se deve a um certo preconceito do mercado cinematográfico nacional com os filmes do gênero produzido no Brasil. “Esses filmes muito gráficos circulam, mas apenas em festivais muito específicos. Que não são vistos com relevância pelo mercado brasileiro”, afirma o jornalista.

A declaração de Gabriel vai ao encontro da perspectiva de alguns cineastas do gênero aqui no Brasil. Em entrevista realizada para a Película, o diretor de Morto Não Fala (2018), Dennison Ramalho, disse que o terror é um gênero muito praticado no Brasil e muitos dos filmes são exibidos em festivais nacionais e internacionais. No entanto, nem todos conseguem chegar às salas de cinema. E quando chegam ficam por um período muito curto.

Mesmo que os dados mostrem o interesse das pessoas pelo terror, há uma explícita resistência mercadológica, pois crê-se um filme nacional do gênero possa trazer retorno. “Eu acho que existe assim um receio dos exibidores, quanto a viabilidade comercial e a popularidade desse gênero”, explica Dennison. 

Dennison faz parte de uma nova geração de cineastas de terror, junto a nomes como Rodrigo Aragão, além de Juliana Rojas, Marco Dutra, Gabriela Amaral Almeida e entre outros, que hoje estão construindo a história deste gênero no Brasil. Uma história fragmentada, marcada por censura, transgressão e experimentação. 

Um gênero não assumido 

Na tese Medo de quê: Uma história do horror nos filmes brasileiros da jornalista, doutora e pesquisadora de cinema, Laura Loguercio Cánepa, há uma tentativa de organizar a produção cinematográfica de terror historicamente. 

A Meia Noite Levarei sua Alma é apontado por Laura e por outros pesquisadores do tema, como o primeiro filme brasileiro a ser assumidamente de terror. No entanto, o que ela  mostra em seu texto – sem desconsiderar a importância histórica de Mojica –, é que antes do primeiro filme da saga do Zé do Caixão, já haviam outras produções que se aproximavam do gênero.

Desse modo, a jornalista mostra que A Meia Noite Levarei sua Alma não foi uma tacada de sorte, algo que surgiu do nada, mas sim um resultado de caminhos abertos por outros filmes – inclusive da época do cinema mudo –, que já ensaiavam o gênero no Brasil. “Antes o que você tinha eram namoros, tanto que são filmes que as próprias pessoas envolvidas ficariam surpresas  de alguém dizendo que é uma história de terror. Mas é”, conta Laura Cánepa. 

Em Alameda da Saudade 113 (1951), de Carlos Ortiz, por exemplo, temos uma história de uma lenda urbana da cidade de Santos, em São Paulo. O filme não encontra-se disponível na internet. No entanto, foi possível encontrar um arquivo de seu roteiro. Um jovem, chamado Raul, se interessa por uma moça de nome Inês durante um baile de máscaras – o típico amor à primeira vista. Os dois dançam, flertam e percebem que têm várias coisas em comum. Em meio a uma noite chuvosa, o rapaz conduz a moça em segurança à sua casa, oferecendo seu sobretudo para protegê-la da água.

Cartaz de Alameda da Saudade 113 (1951) – Foto: Reprodução/Lotus-Filmes e Cinematográfica Bandeirantes

Na noite seguinte, após não conseguir tirar Inês de sua cabeça, Raul retorna ao endereço dela, com o pretexto de pegar de volta seu sobretudo. Mas ao invés de Inês, quem atende a porta é sua mãe, que informa ao jovem que sua filha havia morrido fazia dez anos. Após conversar com a mãe de Inês, Raúl resolve visitar o túmulo de sua amada e encontra na lápide seu sobretudo junto a um revólver, que fora colocado pelo espírito de Inês na noite anterior. Em sequência, num ato trágico, Raul tira sua vida com a arma em frente a sepultura de seu amor.

Imagens de Alameda da Saudade 113 da revista A Cena Muda – Montagem: Revista Película

Ao revisitar a narrativa é possível dizer que a obra tem elementos de horror que poderiam encaixá-la no gênero. Contudo, segundo Laura Cánepa não foi reconhecido como tal por uma série de razões: a inexistência de filmes brasileiros de terror na época, o baixo status do gênero naquele momento, o fato da maioria dos filmes de terror da época serem de monstros – como o monstro de Frankenstein, Drácula, Múmia e etc. –, e a má recepção do filme pelo público e pela crítica.

Alameda da Saudade 113 é um dentre vários exemplos do horror antes do Mojica. Isso porque outros filmes contemporâneos ou anteriores ao de Ortiz também flertaram com o gênero. Na primeira década do século XX, ainda no cinema mudo, haviam filmes criminais e de serial killers, como Os Estranguladores, A Mala Sinistra e O Crime da Mala, todos de 1908.

Para Daniel Serravalle, professor de Literatura da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e pesquisador do trabalho do Mojica, a discussão sobre qual foi o primeiro cineasta de terror no Brasil e se foi o criador de Zé do Caixão, depende do que a pessoa enxerga como terror. “Quem fala que o Mojica é o primeiro cineasta de terror brasileiro, tem uma ideia do gênero muito fixa na cabeça”, provoca Serravalle. 

Mesmo assim, não dá pra negar a importância do Mojica. Até pessoas que nunca sequer viram um filme dele, já ouviram o nome “Zé do Caixão”. Mojica foi responsável pelo que Laura Cánepa caracteriza como o período auge do terror no Brasil – que se deu entre 1963 e 1970. Época que apesar de muito rica para a formação do gênero é marcada pela ascensão de uma ditadura no país, com o golpe deflagrado pelos militares em 1º de abril de 1964.

Mojica, um conservador transgressor

A história do cinema de Mojica anda de mãos dadas com a história recente da política brasileira. Um diretor que lançou filmes durante a ditadura, durante o processo de redemocratização e também na democracia.

Apesar de ser considerado por muitos um conservador e com questões problemáticas no âmbito do gênero em suas produções – sobretudo pela forma como retratava a violência contra as mulheres – isso não era tão debatido na época. Ainda hoje, a forma como Mojica retrata esse tema gera debates no meio acadêmico, às vezes sendo lida como um reflexo da misoginia estrutural da época e outras como uma crítica do autoritarismo patriarcal. Isso mostra o quanto Mojica era uma figura ambígua, que confundia e provocava. Um conservador transgressor, com uma abordagem experimental que chegava a questionar certas convenções e crendices populares dos brasileiros.  

Isso fez Mojica ser um dos criadores mais censurados pela ditadura, algo que ele alegava em entrevistas concedidas a veículos de imprensa após o fim do regime militar. 

Um exemplo desta censura está em Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver (1967), que foi só liberado pela censura após um corte de 30 minutos do material e a modificação total da cena final do filme. Originalmente, a personagem de Zé do Caixão era perseguida por um grupo de homens revoltados pelos atos do personagem que sequestrou e assassinou diversas mulheres. Zé, que é um ateu convicto, antes de morrer pelas mãos do grupos de homens, continuaria a negar a existência de Deus.

No entanto, por pedido da censura, foi adicionado um voice-over no qual o personagem admite sua crença em Deus: “Deus, Deus… Sim, Deus é a Verdade! Eu creio em Tua força! Salvai-me! A cruz, a cruz, padre! A cruz, o símbolo do Filho”.

Apesar dessa censura, o filme seguinte de Zé do Caixão ainda pode ser exibido no período. Algo que não aconteceu com o caso de O Despertar da Besta (1969), filme de Mojica que foi proibido pela censura. 

Inicialmente com o nome de Ritual dos Sádicos, o longa era previsto para ser lançado nos cinemas brasileiros em 1969. Mas depois de diversas avaliações dos censores, o filme foi totalmente interditado pelo chefe do Serviço de Censura de Diversões Públicas do período, Wilson Aguiar, por conter ofensas ao decoro público, cenas de ferocidade e que sugerem prática de crimes, divulgar e induzir aos maus costumes e ser ofensivo as coletividades e religiões.

É perceptível ao assistir o filme, o porquê da censura ter interditado, já que essa é uma das obras mais políticas do diretor, ao abordar a questão do uso de drogas em meio à ditadura. Na biografia do Mojica, Zé do Caixão: Maldito – A Biografia: um verdadeiro documento para amantes do cinema e do terror, de André Barcinsk e Finott, o diretor explicou que teve a ideia do filme depois de presenciar uma cena terrível em sua frente. Ele estava na delegacia quando, de repente, viu uma mulher grávida, que era prostituta e usuária de drogas, ser espancada por policiais. Isso motivou Mojica a fazer um filme sobre os terrores do dia a dia.

Ritual dos Sádicos ou O Despertar da Besta – nome quando lançado nos cinemas apenas em 1983 –, é um filme que intercala pequenas histórias de pessoas praticando atos criminosos ou “repugnantes”. Todos esses contos têm um denominador em comum: o uso de alguma droga. Essas histórias que aparecem no filme são contadas por um pesquisador e debatidas em um programa de televisão com outros três psiquiatras, que acusam as drogas de serem os motivos por trás dos atos mostrados nas histórias.

Em momento onírico de O Despertar da Besta, Zé do Caixão assombra voluntários do experimento – Foto: Reprodução/Spcine Play

No entanto, além dos psiquiatras, na mesa também está José Mojica Marins interpretando a si mesmo. Sua presença na mesa se justifica, pois um dos psiquiatras resolve fazer um experimento com LSD em quatro voluntários, enquanto estes ficam diante de um cartaz de um filme do Zé do Caixão.

O filme, inicialmente, aparenta ser um lição moralista e anti-drogas, mas ao longo de sua parte final, vai se mostrando uma obra de contestação a como os usuários de drogas são vistos pela sociedade.

No período em que Mojica tentava lançar O Despertar da Besta outros filmes seus foram sendo lançados no caminho, como o marcante Exorcismo Negro. No entanto, com as censuras reiteradas e as dificuldades financeiras para produzir projetos autorais, o diretor acabou sendo jogado a um certo ostracismo, levando-o a dirigir filmes pornográficos na década de 1980.

Na década seguinte, há uma virada na carreira de Mojica, com o lançamento de seus filmes nos Estados Unidos e na Europa, onde ganha prestígio e status cult. Além de surgir uma revisão crítica de sua obra como cineasta no âmbito nacional, que passou a ser valorizado por ter estado na linha de frente da produção e da defesa do horror no cinema brasileiro.

Terror além do Zé do Caixão

Com isso, José Mojica Marins, acabou se tornando o nome mais importante do terror no século XX, sobretudo por ele assumir o gênero. Mas Mojica não foi o único a produzir esse tipo de filme no Brasil. Nomes como Walter Hugo Khouri, Jean Garret e Ivan Cardoso, tiveram produções marcantes do gênero, apesar de diferentes do terror feito pelo Mojica.

A jornalista Laura Cánepa aponta Khouri como um dos cineastas mais subestimados do horror brasileiro, numa linha bem diferente de Mojica. Enquanto o criador do Zé do Caixão era mais experimental e popular, Khouri tinha mais recursos e produzia um cinema mais “moderno e intelectualizado”. “Ele fez filmes muito interessantes como As Filhas do Fogo (1978), O Anjo da Noite (1974) e O Desejo (1975). São filmes que eles tiveram alguma atenção, mas não tanto para a questão do terror”, explica a pesquisadora.

O cineasta acabou se destacando por ser mais filosófico e existencialista. Além de abordar diversas temáticas sociais em seus filmes, como relações de classe, raça e gênero. 

Walter Hugo Khouri no set de As Filhas do Fogo (1978), filme que colocava um casal de duas mulheres como protagonistas em plena ditadura – Foto: Reprodução/Instagram/Walter Hugo Khouri

Outro nome de destaque, que também era da Boca do Lixo, como Mojica, era Jean Garret, marcado fortemente por sua relação com o horror e o erótico, com filmes como Excitação (1976), A Força dos Sentidos (1978) e Amadas e Violentadas (1975).

Já Ivan Cardoso, que não foi exatamente contemporâneo de Mojica, mas que teve uma relação quase de aluno com o cineasta, sempre foi um grande defensor do seu cinema. Ele marcou a história pela forma que misturava o terror e o humor em suas obras. Tanto que ele é considerado o criador do “terrir”, subgênero cinematográfico que mistura a comédia das chanchadas brasileiras com o horror e o suspense.

Ivan Cardoso é diretor de filmes como Nosferato no Brasil (1970), As Sete Vampiras (1986) e O Segredo da Múmia (1982) – Foto: Reprodução/Abbade Entretenimento

Construção de um novo terror brasileiro

Inspirados por nomes como Mojica, Khouri, Garrett ou até nomes internacionais como Romero, Friedkin e Sam Raimi. Diversos cineastas estão construindo a filmografia brasileira no cenário do horror contemporâneo, trabalhando questões centradas na vivência brasileira em diversos locais do Brasil.

No Espírito Santo, Rodrigo Aragão, entrevistado pela Revista Película, trabalha tópicos muito próprios do Brasil em seus filmes. “A questão da desflorestação, do não respeito à natureza e do avanço dos males do capitalismo são muito trabalhadas em Mangue Negro”, explica o crítico de cinema Gabriel Carneiro. Aragão foi muito influenciado por Mojica em sua cinematografia e se assemelha muito ao “pai do terror brasileiro” nas condições para a produção, com filmes muito marcados por um trabalho bem artesanal. 

O cineasta Rodrigo Aragão, também fala sobre sua história como diretor, suas inspirações e o futuro do horror brasileiro na entrevista à Revista Película, que está disponível abaixo.

Outro nome muito influenciado por Mojica é Dennison Ramalho, que trabalhou como roteirista ao lado dele em Encarnação do Demônio (2008) último filme de Zé do Caixão, foi . O diretor gaúcho que tem uma grande relação com quadrinhos já adaptou para os cinemas Ninjas (2010) e  Morto Não Fala (2018).

Diretor Dennison Ramalho no 20º Festival do Rio – Foto: Flickr/Festival do Rio

Já em São Paulo, nomes como Juliana Rojas, Marco Dutra e Gabriela Amaral Almeida trabalham muito com uma espécie dos terrores da urbanidade e o capitalismo como uma espécie de monstro.

Marco Dutra (primeiro à esq.) e Juliana Rojas (segunda à dir.) junto com as atrizes Marjorie Estiano (segunda à esq.) e Isabel Zua (primeira à dir.) no set de Boas Maneiras (2017) – Foto: Reprodução/Flickr/Trombone Comunica

De acordo com Carneiro, estes três fazem um terror que parece ter uma aceitação maior no mercado dos festivais por serem filmes “menos violentos e explícitos”. Nesse sentido, até o próprio cinema de Kleber Mendonça Filho, diretor pernambucano de filmes como Bacurau (2019), Som ao Redor (2012) e Vinil Verde (2004), conversam com o gênero. “Você tem fantasmas que aparecem no meio do nada ou você tem o gore. Ele gosta disso”, exemplifica Laura Cánepa.

História de descontinuidades

Mesmo com grandes cineastas do gênero surgindo e o terror brasileiro sendo reconhecido internacionalmente, ainda há muito trabalho a ser feito, tanto na questão da preservação dos filmes quanto no espaço para exibição. Uma das coisas que mais impressionou Laura Cánepa em sua tese sobre o cinema de horror no Brasil, foi a quantidade de filmes que existem do gênero. Algo que até então parecia um fenômeno raro. 

No Dicionário de Filmes Brasileiros – Longa Metragens (2002), apenas 20 filmes foram registrados com o gênero horror e um como uma comédia de horror. Mas ao analisar filme por filme, pode-se ver que muita coisa que poderia ser considerada horror, acabou sendo registrada em outro gênero. É o caso dos filmes do Walter Hugo Khouri, que é um cineasta que fez filmes de horror. Mas que teve muitas de suas obras vendidas como outro gênero. Neste mesmo dicionário, por exemplo, filmes como O Anjo da Noite (1974), Desejo (1975) e As Filhas do Fogo (1978), que são lidos hoje em dia como horror, foram vinculados ao drama ou suspense. 

Filmes de Khouri foram catalogados em outros gêneros no Dicionário de Filmes Brasileiros – Montagem: Revista Película

Atualmente pode-se ver que a produção não é tão massiva quanto a de outros gêneros. Analisando os dados da Ancine dos filmes brasileiros lançados nas salas de cinema entre 2020 e 2023, apenas 16 filmes de horror foram lançados no período. Em comparação a outros gêneros como comédia e drama, tiveram respectivamente 87 e 177 filmes lançados. Isso mostra que apesar de estarem sendo lançados filmes do gênero, a construção disso na sala de cinema ainda está engatinhando. 


Filmes de horror brasileiros lançados no cinema de 2020 a 2023

O site da Ancine apenas dividia os filmes entre ficção, animação e documentário, portanto para retratar os gêneros dos filmes de forma mais ampla, foram utilizadas as informações que constavam em redes e agregadores como Letterboxd e IMDb.

Filmes de horror brasileiros lançados no cinema de 2020 a 2023 O site da Ancine apenas dividia os filmes entre ficção, animação e documentário, portanto para retratar os gêneros dos filmes de forma mais ampla, foram utilizadas as informações que constavam em redes e agregadores como Letterboxd e IMDb.
Gráfico: Revista Película

De fato, a discussão sobre o gênero de terror no Brasil e sua história acaba sendo dificultada – até fragmentada –, devido a valorização e depreciação do cinema no Brasil ao longo da história. O horror talvez tenha sido uma das maiores vítimas disso.

Se qualquer coisa que buscasse questionar a moral e transgredir aquilo que era considerado correto, era censurado e/ou perseguido pelos agentes militares por mais de 20 anos. Imagine como um gênero que quase sempre busca desafiar os “bons costumes” e se contrapor àquilo que é considerado a “boa arte” foi visto pela ditadura.

“O cinema brasileiro tem uma história de descontinuidades”, atesta Laura Cánepa em sua tese Medo de quê: Uma história do horror nos filmes brasileiros. Muitos dos filmes estudados pela pesquisadora no Doutorado em Multimeios, da

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) não puderem ser acessados. Alguns tinham apenas fontes documentais, como sinopse, roteiro – no caso de Alameda da Saudade 113 –, ou resenhas de jornais. Mas “muitos foram perdidos”, explica a jornalista sobre a conservação desses filmes.

A conservação do cinema, como de qualquer arte, passa pelo entendimento da importância das obras tanto culturalmente quanto historicamente. No caso específico dos filmes, sua conservação passa por um processo de  digitalização, armazenamento e conservação adequados dos rolos de filmes. Evitando que ocorram grandes perdas caso tragédias como o incêndio na Cinemateca Brasileira em 2021, o quinto de sua história. 

Algo que é consenso entre os entrevistados é a dificuldade de compor uma história linear para o gênero de terror no Brasil. Isso porque, este é um cinema que teve tropeços, freadas e incompreensão. É também uma arte que resiste e ruma para uma nova fase, construída por uma nova geração de cineastas “terríveis”. 

Reportagem por Yuri Micheletti

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